Letras Uni-BH

Letras Uni-BH
Letras Uni-BH

domingo, 17 de junho de 2012

Entrevista Prof. Dr. Mário Alex Rosa


Mário Alex Rosa nasceu em São João Del Rei, Minas Gerais, em 14 de janeiro de 1966. Poeta, artista plástico e crítico literário, formado em História, mestre e doutor em Literatura Brasileira pela USP. É professor de Literatura Brasileira no Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Tem poemas publicados nas revistas Dimensão, Inimigo Rumor, Cacto, Teresa e no Suplemento Literário de Minas Gerais. Participa da antologia O achamento de Portugal (Org. Wilmar Silva. Belo Horizonte: Anome livros/Fundação Camões, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos. Levou ao CEFET-MG, a exposição “A régua da memória ou a regra da memória”, entre os dias 4 e 8 de abril de 2009. Em 2006, lançou seu primeiro livro de poemas infantis, ABC do futebol e outros poemas. Segundo texto postado na Plataforma Lattes, tem experiência em Literatura Brasileira, tendo estudado, com especial atenção, os poetas Carlos Drumond de Andrade – tema de sua dissertação de mestrado, defendida em 2001 -, Armando Freitas Filho – cuja obra estudou por ocasião do doutorado, defendido em 2009 – e Manuel Bandeira. Tudo isso faz com que tenhamos interesse em conhecer a sua opinião acerca da Semana de Arte Moderna e do Modernismo brasileiro.  
Entrevista
O que mais marcou a Semana de Arte Moderna na literatura brasileira na sua opinião? 
Sobre isso, podemos pensar em duas questões fundamentais: a linguagem e a escrita, ou o que podemos chamar de português brasileiro. Essa é a ocasião em que a língua portuguesa brasileira rompe definitivamente com o português de  Portugal. Basta pensar no poema “Pronominais”,  de Oswald de Andrade, em que o autor brinca com o pronome e o verbo dizendo: “Me dê um cigarro”. Essa forma de escrever foi proposital, provocativa, teve a intenção de trazer para a linguagem coloquial o modo de falar, o que acaba prevalecendo para a escrita, como uma forma estética. E isso muda radicalmente a escrita, a fala da poesia e da prosa brasileira.
 Quais foram os principais participantes da Semana de Arte Moderna?
Mais do que falar dos nomes dos principais artistas que  participaram da Semana de Arte Moderna, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Villa Lobo, devemos pontuar aquilo que foi mais importante, que é pensar que tudo no Brasil era, na ocasião, muito provinciano. Um exemplo desse provincianismo: Mário de Andrade, esse poeta provocativo, escreveu um livro em 1922, o Paulicéia Desvairada, no qual provoca o leitor com uma escrita pouco convencional. Nesse livro há um poema em ele pede dinheiro emprestado a seu irmão para pagar uma escultura de um cristo de trancinha. Tal pedido chocou toda sua família, que era cristã.
 Qual foi o objetivo principal da Semana de Arte Moderna?
Apreciadores mais desavisados da Semana de Arte Moderna podem considerar que o objetivo do evento fosse provocar a sociedade conservadora, burguesa de cafeicultores que financiava essa arte. Uma reflexão mais acurada nos permite pensar, no entanto, que a pretensão daqueles artistas era realmente  modificar, mudar o passado tão lusitano do idioma português no Brasil. É como se se pudesse comemorar de fato, naquela ocasião,  o centenário da Independência, ocorrido em 1822, dando um retrato mais real do Brasil, que já era um pais culturalmente muito heterogêneo, e que por essa heterogeneidade estava sempre em busca da sua identidade cultural. Um dos objetivos seria, ainda, repensar as culturas primitivas como a cultura indígena e a cultura negra,  que não tinham valor estético e artístico reconhecido, como as artes nobres europeias. Era preciso usar a ideia proposta, por Oswald de Andrade em seus manifestos[i], de misturar essas culturas e não aceitar facilmente as artes européias, tentando mostrar esse retrato multifacetário do Brasil.
 A polêmica Semana de 22, os escândalos no Teatro Municipal de São Paulo e as criticas ferozes levaram os artistas e intelectuais modernistas a criarem veículos representativos e de disseminação do ideário estético do Movimento Modernista brasileiro. Em sua opinião, após esse acontecimento, o que mais mudou na vida dos brasileiros em relação á arte e a literatura?  
O  que mudou foi à concepção de fazer arte e escrever. A partir desse evento passamos a ter uma identidade, fato que promove, pelo menos do ponto de vista estético, uma mudança que, nos planos social, político e econômico somente se verificaria muito mais tarde. Essa arte, esses artistas, esses poetas e escritores, na verdade eles estão mais é dialogando entre si. É um dialogo entre eles, à margem dos demais setores. Cabe pensar que a sociedade brasileira não estava acompanhando e nem compreendendo aquele movimento. Porque ele não foi compreendido, pelo menos não de forma imediata. Tanto é que Mario de Andrade, em 1942, escreve um texto muito importante fazendo uma revisão de toda essa ideia modernista radical. Porque aqueles artistas, os que conceberam e realizaram a Semana de Arte Moderna, foram muito radicais, e como todo jovem rebelde, eles se rebelaram contra o establishment. Essa mudança foi se processando lentamente na arte brasileira e na recepção do povo brasileiro.
Como trabalhar este tema e torná-lo mais interessante em sala de aula com os alunos dos ensinos fundamental e médio?
Hoje professores só formam bons alunos e cidadãos  se trabalharem bastante dentro de sala de aula. Discutir com os alunos as mudanças que aconteceram com a Semana de Arte Moderna, trazer sempre a arte para dentro da escola e principalmente para a sala de aula, demonstrando o pensamento e objetivos daqueles artistas naquela determinante data da semana de 22. E não sobrecarregar os professores com festas regionais que seriam muito menos  importantes que a arte.  
Sua obra recebeu influências da Semana de Arte Moderna?
Seria pretensão falar qualquer coisa assim! Nós podemos dizer que vários artistas posteriores receberam influencia. Podemos citar o caso de Amilcar de Castro, que já faleceu. Podemos perceber o porte da escultura dele, do mesmo modo que podemos reconhecer um Mondrian, artista holandês que se erradica depois em Nova York, e isso é muito importante, pois mostra como há linguagem ainda, em relação ao passado brasileiro. A poesia contemporânea brasileira até hoje deve muito a esse momento do nosso primeiro modernismo, digamos assim, pensando de uma forma mais didática, e qualquer pessoa que tenha uma pretensão no campo do romance, no conto e no exílio, deve ler Oswald de Andrade, Drummond e Manuel Bandeira porque eles foram detonadores de tudo. Para fazer um novo romance Macunaíma, o que é muito difícil se pensarmos na estrutura da nossa língua, como o Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, que tenta criar uma nova língua brasileira para aquele momento. Então mais que obra minha, pois acho que não tenho obra para isso! Nossa literatura hoje se deve muito a esses modernistas escritores, nós devemos muito mais a eles do que qualquer escritor do século XIX, ainda que Machado seja um dos Maiores.
Ana Carolina Lima
Daiane Araújo
Elane Mendes
Giselle Magalhães
Rozângela Daniel
Soliene Páscoa
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ROSA, Mário Alex. ABC futebol clube e outros poemas. Campina Grande: Bagagem, 2006. 28 p. ISBN 8589254232

Nenhum comentário:

Postar um comentário